sufocado em seu próprio vômito
Eu era criança, bem pequena. Uma criança de seis anos, com uma avó morta e três avôs vivos. Vivia pensando na morte da mãe da minha mãe. Foi trágica, morreu do mesmo jeito que o Jimi Hendrix, mas isso eu só descobri depois.
Eu não sofri, não me lembro dela, a não ser pela foto torta que minha mãe sempre deixou num porta retrato na sala lá de casa. Amava ficar olhando pra aquela foto, daquela mulher que parecia grande, tinha cabelos curtos, pele negra, olhos redondos, iguais o da minha mãe, mas que eu não conhecia.
“Mãe, pra onde ela foi?”
“Pro céu”
“E como é lá?”
“Não sei”
“Qual foi a primeira coisa que ela viu quando morreu?”
“Não dá pra saber”
“Mãe, o céu é escuro?”
“Não sei, eu não morri ainda, quando eu morrer eu juro que volto pra te contar”
“Mãe, eu tenho medo de morrer e ir pro escuro”
“Você não vai morrer”