So Long, Marianne
I asked my father
I said, “Father change my name”
The one I’m using now it’s covered up
With fear and filth and cowardice and shame
(Lover, Lover, Lover — Leonard Cohen)
Odeio meu nome, mas acho que combina comigo, é o que dizem.
Ninguém respeita a última letra e me chamam de Mariana o tempo todo, não ligo mais.
Queria falar que tenho esse nome por causa da música do Leonard Cohen, mas seria mentira. Minha mãe só fez um ultrassom quando estava grávida. Gravidez indesejada, ela tinha vinte e três anos — minha idade hoje.
O médico disse que era menino, ela escolheu o nome: Leonardo — que ficou pro meu irmão mais novo que nasceu cinco anos depois e não tem nada a ver com o ícone canadense, ela amava o cantor sertanejo.
Escolheu o nome, comprou roupas azuis, brancas e verdes. Naquela época ainda era assim.
Eu sai da barriga dela numa segunda-feira chuvosa de janeiro, dez e quinze da noite, de cesárea, ela desacordada, meu pai do lado de fora da sala de parto. Ela gosta de brincar e sempre me conta a história de que eu nasci sozinha com um monte de gente desconhecida, sem cabelo, magra, comprida, morrendo de medo chorona demais.
“Parabéns, é menina! Já tem nome?”
Meu pai, coitado, tinha dezenove anos, não sabia o que estava fazendo ali, achou que era menino e eu não parava de chorar. Nem sabia segurar bebê, descobriu ali que ganhou uma filha, não um filho.
Minha mãe que não podia me dar peito porque não tinha leite, ainda dormia.
“Não sei” meu pai respondeu. E não sabia de nada mesmo.
Segui sem nome e chorando. No dia seguinte minha mãe já acordada disse pra ele se apressar, pensar num nome logo já que ela sugeriu um que ele odiou. Ela, devota, queria me dar nome de santa, Cássia, de Santa Rita de Cássia, e eu iria ficar só com segundo nome da freira italiana. Se esse fosse meu nome eu mentiria, falaria que era por conta da Cassia Eller e foda-se. Licença poética dos anos noventa.
Meu pai saiu pra comprar cigarros e jornal na terça-feira que continuava chuvosa. Ele conta que lia e fumava um marlboro debaixo de uma marquise da maternidade quando viu meu nome lá. Alguma coluna escrita por uma tal de Mariane. E foi assim, fui registrada no dia seguinte, com o nome escolhido no caderno de esportes da Folha de São Paulo.
Em 2016 quando Leonard Cohen foi dessa pra uma melhor, meu pai me mandou So Long, Marianne no whatsapp.
“Olha Mari, ele tem uma música com o seu nome”