o dia que eu fui trabalhar sem cueca
agosto, calor no sol, frio na sombra.
natação pela manhã, eu precisava fazer algum esporte, foi o que a dra falou. pois bem, eu fui.
vesti uma sunga, ri de mim mesmo no espelho do banheiro. me senti patético.
o plano era ir direto pro trabalho, vesti as calças, nessa hora vocês já perceberam que eu esqueci de colocar cueca na bolsa. pois é.
dei um beijo na testa da minha mulher antes de sair. ela estava fazendo o que mais gosta nesse mundo: dormia.
deixei as janelas do apartamento abertas. pra ventilar.
usar sunga no lugar de uma cueca é engraçado. a sunga é mais gelada. o tecido do jeans da minha calça deslizava. caminhei até a academia que oferecia o serviço de natação básica para adultos.
meu professor não tinha mais do que dezoito anos e muitas espinhas na cara. um magricela branquelo que cheirava a cloro e desodorante barato. deu-me as coordenadas de onde ficaria meu armário, enquanto ele falava eu percebia um resto de café da manhã preso no seu aparelho, nojento.
nadei, nadei e nadei, cansei. eu não estava em forma, sabia disso. os cigarros noturnos que ficaram recorrentes nesse ultimo inverno e estavam dando trabalho pro meu pulmão. foram quarenta minutos, pareciam bem mais.
acabou, eu agradeci o professor, fui me trocar. sem cueca pra colocar e com a sunga molhada optei por usar o jeans direto, sem nada. foi uma experiência.
primeiro senti liberdade, era só tomar cuidado na hora de fazer xixi, pros pelos pubianos não enroscarem no zíper. mas aconteceu. e doeu.
liguei pra minha mulher na hora do almoço, contei o que tinha acontecido, ela riu.
no trabalho ninguém descobriu. mas isso não importa.
nas friezas dos meus dias na sombra, tomo sol quando posso e passar um dia sem cueca foi o ápice da minha semana.