Me avise quando for a hora

MARIANE VILAS-BOAS MELO
1 min readSep 30, 2020

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Do banco do passageiro observei minha mãe guiar o carro branco na rodovia Anhanguera.
Barão Vermelho tocava no auto falante chiado. No singular. Era o único que funcionava.
O teu futuro é duvidoso.
Tal como contou Matilde naquele fim de tarde:
O brasileiro acha que o amor é importante.
Eu cá, não acho nada, ela mesmo retrucou e depois acrescentou: Pra amar é preciso se esquecer das horas
Do tempo.
Minha mãe dirige com uma certa força e tranquilidade,
o jeito que ela segura no volante me trás uma paz.
Me perdi no relógio.
Das coisas que eu nem sei explicar.
Mesmo no escuro da noite ela sabe o que está fazendo.
Ela tem uma miopia.
Astigmatismo, não lembro. Só sei que alguns graus.
E ela guiava sem seus óculos de plástico.
Pode seguir a tua estrela.
Eu quero levar a vida com a força e a tranquilidade que minha mãe dirige o carro branco na noite da rodovia Anhanguera.

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MARIANE VILAS-BOAS MELO
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Written by MARIANE VILAS-BOAS MELO

“see enough and write it down” — joan didion

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