Mariane no Incrível Mundo do Isolamento Social.
Não é um texto motivacional. Nem de longe. Mas é real.
Minha concentração foi prejudicada. Escrever tem sido uma das coisas mais desafiadoras pra mim nessa quarentena. Tenho tido uma dificuldade enorme em manter uma rotina. Não faço home office, se eu quiser passar o dia na cama, eu posso. Uma pessoa como eu com essa oportunidade, pode fazer um grande estrago, dormindo.
Eu poderia dormir por um dia inteiro só pra não ter que pensar em mais nada. Eu juro que consigo, devo confessar que tenho uns comprimidinhos que podem me ajudar com isso. Mas eu não faço. Eu me obrigo a levantar no meio da manhã. Me obrigo a fazer ioga, me obrigo a me exercitar e tomar um bom café da manhã. Não faço nada disso com prazer total, depois é gostoso, claro, mas a iniciativa é sempre dolorida.
Tenho dias horríveis e dias médios. Os horríveis geralmente acontecem quando eu penso demais, tudo sai de controle. Durmo de mais, choro, penso no futuro e chego a conclusão de que não faço a menor ideia do que fazer. Às vezes me odeio por me sentir assim. Afinal de contas, sou privilegiada por poder fazer o isolamento social, não perdi o emprego e ainda posso ir ao mercado comprar sucrilhos. Eu deveria estar feliz e encarar tudo isso como férias dentro de casa, como um momento de me conhecer melhor, de aproveitar melhor todos esses dias. E isso também faz parte da grande confusão que a minha cabeça e de milhares de pessoas enfrentam durante um pouco mais de um mês.
E tem os dias médios. Geralmente são os dias que eu consigo manter a rotina de acordar no meio da manhã, me exercitar, tomar um café, cozinhar, estudar, ler, falar com pessoas, tomar uma cerveja, me divertir. Tudo na hora certa e tentando não passar a madrugada acordada. Que é uma coisa ruim e que às vezes eu faço. Passo esse tempo pintando, ouvindo música, vendo filmes e fazendo listas.
Fazer listas sempre me ajudou. Enquanto escrevo isso, me dou conta que essa minha coisa com listas eu ainda não comentei com a minha terapeuta, que agora vai me encontrar semanalmente pela tela do meu celular. Meu deficit de atenção me obrigou a fazer listas durante a vida toda. Nesses dias de quarentena eu faço listas pra me motivar, pra não me perder, pra ter meus pequenos objetivos. Eu tenho um prazer maluco em dar check nas coisas e sempre que falo isso pra alguém, faço rir.
Acho que eu já desaprendi como funciona a vida real. Nem sei mais qual ônibus eu pego pra ir pro trabalho. Me acostumei rápido com o casulo que eu criei em um mês. O problema do fim do poço é quando nos acostumamos com ele. Meu casulo é o único lugar que me sinto confortável nos dias horríveis.
Claro que às vezes eu fico maluca, sinto falta até de trabalhar. Sinto falta de sentar num bar, de visitar meus amigos, de andar por aí, de sair pra correr sem me preocupar “será que vão me julgar?”. Afinal, ainda existem perguntas do que pode e do que não pode fazer nessa nova ordem das coisas.
Quarentena, quem diria, né? Em questão de dias tudo mudou. Os lugares fecharam, ficar em casa é a recomendação (apesar de um boçais acharem que não) e a dinâmica é outra.
Deletei o instagram, fato que chocou os poucos amigos que ficaram sabendo do meu pequeno grande feito. Faz parte do código social do jovem médio: tem que ter instagram. Se você não tiver, você não existe. Quero mais que o instagram e o mundo infinito das lives, selfies, e outras diversas formas punhetagem no ego vão pra puta que pariu. Talvez um dia eu volte e mude de ideia, por hora, meu mais sincero foda-se.
Sigo tentando viver um dia de cada vez, tentando ver um lado bom nisso tudo, fazendo listas e sonhando com o fim.