consulta de número 7.
Eu chego no consultório encharcada da chuva, não limpo os pés pra entrar. Ela olha sem graça diretamente pros meus all stars sujos. Eu peço desculpas e procuro o banheiro.
Enquanto isso ela passa um café, mas não toma direito, experimenta enquanto serve a minha xícara. Uma xícara amarela, de porcelana e muito pesada. Eu tomo devagar e me sento na cadeira confortável.
Cara, eu amo essa cadeira.
É de couro e macia pra caramba.
Ela serve água em copos de vidro azul pra nós duas, senta-se na poltrona reta e chata, de madeira. O cheiro de café toma conta do ambiente.
Ainda olhando pro meu pé, ela toma a água como se fossem shots de vodka e respira fundo.
Vira um, dois, três shots enquanto pergunta como foi minha semana. Parece que ela está se preparando pro pior.
“foi uma merda”
E ela sorri com o canto da boca, que mais parece um rasgo em seu rosto. Ela é linda de um jeito único, ela não tinha uma beleza das moças de revista, então rolava uma identificação. Seus olhos grandes e verdes conversavam muito bem com seu rosto fino e delicado, a boca extremamente pequena e um nariz enorme, o nariz mais bonito que eu já vi.
Ela fica seria do nada, e a consulta continua. Eu tenho uma mania muito feia de completar as frases dela, e ela parece não se importar muito na hora, mas eu sei que isso no fundo, incomoda, assim como sua poltrona reta e chata de madeira.